quarta-feira, 25 de abril de 2007

Uma Janela ( Capítulo 3)

13h07
Toca a campainha...

-Tá aberta! – grita o tradutor.

O homem entra naquele apartamento que tanto já visitara. Continuava igual. Não era pequeno, nem grande. Talvez um pouco menor que um apartamento médio. Logo de frente para a porta ficava a janela. Tinha quase dois metros de largura, uma persiana presa no alto. Nunca vira aquela persiana abaixada. A vista estava sempre à mostra. E lá estava seu garoto, debruçado em seu parapeito. Ele fumava e disse:

- Deixa só eu acabar esse daqui e a gente vai, ok? – disse, virando-se e encarando aquele homem. Seu pai, seu velho.
- Tranqüilo filhão! O que você tanto vê nessa janela? - responde o pai. Seu filho estava mais magro, disso não tinha dúvida, de resto parecia que estava tudo igual.

Ao aproximar-se da janela, ele atravessou toda a sala daquele apartamento. Passou por um sofá vermelho à sua direita, em frente de uma televisão, à sua esquerda. A cozinha ficava atrás do sofá. Era uma cozinha americana. Não havia divisória entre ela e a sala. Apenas um muro que era usado como mesa. Haviam também três banquinhos encostados neele. A pia estava cheia de louça, provavelmente seu filho não passava por ali fazia alguns dias. Riu. O garoto sempre fora desleixado. Lembrou-se de quando ele saiu da casa da mãe. Era tão jovem. Devia ter uns 22 anos na época. Tinha conseguido um emprego em uma editora, um salário bom. Sempre se lembrava da alegria do filho ao conseguir o emprego. Pena que essas coisas não duram para sempre e agora ele trabalhava em casa, no computador ao lado da imensa janela que iluminava toda a sala.

Seu filho era um pouco mais alto que ele. Deveria ter 1 e oitenta, um pouco menos talvez. Usava um All-Star preto, um jeans surrado, de um azul tão claro que parecia branco e uma camiseta verde-escuro. Tinha deixado o cabelo cacheado crescer e já cobria suas orelhas.

- E ai? Não responde não? – comentou o pai, encostando-se também no parapeito da janela e tirando um cigarro do maço do filho, que fez uma cara feia e respondeu:
- Foi mal, não ouvi. Tava olhando a vista.

Ela era realmente linda. Ali era uma região alta, dava para ver metade da cidade. Conseguia-se ver a Avenida Paulista, um hospital, o centro inteiro de São Paulo.

- O que você tinha dito? – perguntou o filho, soltando fumaça enquanto falava.

- Perguntei o que você tanto vê nessa janela – disse o pai, ascendendo o cigarro e dando primeira tragada. A primeira era única, até hoje ficava arrepiado, em estado de formigamento. Adorava.

- Pô, pai... Daqui eu vejo o mundo. Vejo uma multidão andando pela Paulista. Pessoas passando umas pelas outras sem se olhar nos olhos. Sem se conhecerem. Achando sempre que seus problemas são maiores que os problemas alheios, saca?

“Esse é o meu garoto”, pensou o pai, que apenas respondeu com um sorriso de pai orgulhoso:

- Sei... Como anda o trabalho? – agora ele olhava o filho de frente e percebia que além do cabelo, ele deixara a barba crescer também.
- Tá fraco. To sem trampo faz um tempo. Mandei uns emails aí. Entrei em contato com alguns conhecidos, vai que aparece qualquer coisa né?
- Precisa de dinheiro?
- Não, já disse. Dou um jeito. Sempre dou.

Ficaram quietos por um tempo. Seus cigarros acabaram e foram almoçar...

14h32

Ele gostava do seu pai. Adorava o jeito que ele o olhava. Era um olhar orgulhoso. Seu pai tinha orgulho dele. Disso ele sabia. Durante o almoço conversaram sobre tudo, futebol, namoradas do filho, mais futebol. Apenas uma coisa o intrigava, ele sentira aquela sensação estranha na boca do estomago durante o almoço todo. Na verdade começou a senti-la quando seu pai tocou a campainha. Não gostava daquilo.

Enquanto conversavam, ele reparou em quanto seu pai tinha envelhecido. Tinha olhos cansados, suas rugas estavam um pouco mais profundas e estava mais pálido também. Talvez não estivesse passando uma fase boa. Será que precisava de dinheiro? Quando perguntava sobre a vida do pai, ele se resumia a dizer que “estava levando”, ou “não se preocupe comigo”, e já mudava de assunto. Seu pai nunca lhe falava nada....

Toca o telefone celular. Não conhecia esse número, devia ser de algum orelhão. Ele atende.

-Alô.
- Oi – ao fundo muito barulho e uma sirene – você conhece um Jardel Vargas?
- Conheço. É meu pai.
- Puta que pariu... Garoto, teu pai morreu... Ele tava atravessando aqui a Paulista... uma Parati pegou ele... – gritava nervoso o homem do outro lado da linha.
- O QUÊ? COMO ASSIM MORTO? CADE O DONO DA PARATI? ONDE VOCÊS ESTÃO? VOU PARA AÍ AGORA!
- Estamos aqui na esquina da Augusta com a Paulista. Corre garoto, porque a ambulância já che...

Ele desligou o telefone. Saiu correndo do seu apartamento. Céu estava fechando, parecia que iria chover. Deixou a janela aberta...

7 comentários:

Anônimo disse...

Oiii!
Oba! Primeiro comentário! rsrsrs
Consegui dar uma olhada no seu blog antes do previsto...e eu adorei, porque fico muito curiosa pra ver a continuação das suas histórias.
Não pare de escrever!

Bjuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
BG

Anônimo disse...

Disse que ia escrver vários, né?
Então aí vai o segundo...

Uma sugestão para continuar sua história:
Você podia falar mais sobre a infância dele...e a relação com a família mais profundamente.

Bjuuuuuuuuuuuuu

Anônimo disse...

Ah! vou parar de mandar beijo...vou mandar só no final tá? rsrsrs

Olha...o pessoal vai ver um monte de comentários e vai se empolgar....rsrsrs

VAI BATER O RECORDE DO PRIMEIRO!

Anônimo disse...

Minha criatividade tá acabando...falei da minha dúvida pessoalmente....agora tô sem idéia do que escrever....

Só para não perder a chance...
Adoro seus textos!

Anônimo disse...

Esse é o último...no final de semana escrevo mais...rsrsrs

SUCESSO!
Bjus Bjus Bjus

Anônimo disse...

Poxa!
Tunha que parar bem agora...???
Beijos

Anônimo disse...

Ai, ai, ai, pra variar já estou com o coração apertado. Será que seu personagem vai descobrir que faltou falar alguma coisa para o pai? Sempre fica faltando. Estou curiosa....

Beijossss
Tia Be